CDL - CÂMARA DE DIRIGENTES LOJISTAS DE CONCÓRDIA - SC
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Artigos

Esgotamento do consumo

12/07/2012

Quando surgiram os primeiros sinais do esgotamento do modelo econômico vigente com a retração do consumo, um dos primeiros efeitos foi na área financeira. Como o dinheiro é a "mercadoria" ou meio de liquidez plena, isto é, ela resgata todos os débitos, os governos no desespero injetaram moeda no mercado para recuperar a confiança no mercado. Entretanto, as pessoas não estavam honrando seus compromissos, por birra, ou outros ranços contra o sistema, mas por outras razões onde uma delas era o desemprego estrutural. Os bancos trabalham com o fluxo monetário da economia, não havendo retorno do capital emprestado, imediatamente ele fica sem fôlego. Numa situação de crise, particularmente desemprego, haverá uma atitude do consumidor, de atrasar todos os compromissos para que sobre dinheiro ao menos para comer. Ora, os pagamentos no sistema hoje são todos oriundos de créditos concedidos para aquisição de algum bem ou serviço de consumo. Assim, os bancos são os primeiros a sentirem os efeitos de uma crise, como ocorreu em 2008 a nível global. Alguns países com maior ou menor efeito. Felizmente o Brasil com suas contas macroeconômicas bem ajustadas, apenas alguns respingos nos atingiram, ao menos até agora.

Neste quadro de oferta de dinheiro em abundância fruto, da rapidez eletrônica, a rotação monetária alcançou índices tão elevados que a economia real não mais consegue acompanhar. Essa economia trabalha com bens físicos e serviços reais. A economia financeira hoje totalmente virtual, gera apenas números escriturais abstratos, sem qualquer lastro real.

Sejamos mais didáticos, quando um banco faz um empréstimo a um cliente, este em muitos casos nem chega movimentar fisicamente o dinheiro, usa das facilidades eletrônicas para transferências de seus pagamentos instantaneamente. Neste caso, houve um aumento nos valores "patrimoniais" na contabilidade do Banco sem qualquer contraprestação de serviço ou operação real. Quando chega sair algum valor em espécie, ele será para pagamentos que num curto lapso de tempo voltará para os bancos, aumentando mais ainda sua capacidade de oferecer novos empréstimos. Em linguagem técnica os bancos são "criadores" de moeda. Nesta dinâmica, aumenta cada vez mais a oferta de dinheiro, onde por efeito os juros tendem a cair.

Esta oferta maciça de dinheiro (fictício) oportunizou a sociedade inteira em se endividar, onde muitos bancos relaxaram nas exigências de segurança de liquidez. Nos EUA, foi a quebradeira geral, ocorrido naquela época.

Segundo relatórios de entidades de crédito, a metade dos brasileiros está na situação de inadimplência, isto é em atraso. Se não houver investimentos maciços, tanto público como privado, para recuperar esta situação de criar empregos produtivos, estamos a beira de um colapso financeiro geral. Está se chegando ao esgotamento da capacidade de adquirir bens de consumo durável.

O grande erro é buscar o caminho mais curto para o crescimento econômico: estimular o consumo. Por este caminho o espaço de endividamento das famílias está ficando cada vez mais estreito. O esforço do governo de expandir o crédito através de seus bancos públicos a taxas de juros cada vez menores, poderá levar o país a cair na armadilha da liquidez, como estão ocorrendo, nos EUA, Europa e Japão. Não há mais como baixar os juros, que alguns casos ele, (os juros) são negativos.

Embora ainda não seja o caso brasileiro, nos EUA, Europa e Japão a redução do consumo está por conta da falta de esperança no futuro. Outra explicação por alguns analistas a sociedade se saturou de bens. Há tanta acumulação em suas casas, que não sentem mais prazer em comprar. Também não há espaço físico nem mais tempo para usufruí-lo. Preferem ocupar seus tempos com conhecimentos, acontecimentos, espetáculos, shows onde a Televisão e a Internet reinam soberanas nas suas atenções. Mas, pessoas "paradas" não geram PIB.

Fonte: Sergio Sebold – Economista Independente e Professor.